Pages

sábado, 23 de outubro de 2010

Nos pés, nos passos, no caminhar.



"Pelas plantas dos pés subia um estremecimento de medo, o sussurro de que a terra poderia aprofundar-se.
E de dentro erguiam-se certas borboletas batendo asas por todo o corpo".
Clarice Lispector



-Necessito de um novo par de tênis! Foi a primeira coisa que notei ao olhar para meus pés esta tarde. Culpa deles, é claro! Eles se mexeram tão rápido esta semana que desgastaram meus sapatos... Sim, eu corri demais. Saí como um foguete. Você pensa que senti alguma sensação de voo? Errado, a única coisa que senti foi meu estômago se revirando e meu coração tentando me avisar algo que ainda não compreendo. Eu estava como uma abelha presa em uma caixa. Tentando sair, mas não conseguia. Eu odeio me sentir aprisionada, não nasci para ficar presa. Ah, minha querida claustrofobia. Ironicamente, penso. Lembro-me do elevador e já começo a sentir náuseas. Aquela caixa fechada que sobe e desce. E minha reação quando caso pare comigo dentro... Não gosto nem de pensar! Estou tonta... Elevador não eleva, comprime. Comprime o ar. Comprime o riso. "Comprimidor". Você já se sentiu preso no tempo? Em horas sufocantes que parecem não passar?

Pressa. Você já sentiu saudade de ter saudade? Pressa... 

Surgiu um desejo momentâneo. Quero me lançar naquela terra seca do antigo sítio da minha avó, devorar aquelas jabuticabas diretamente do pé e me alimentar das palavras de Clarice Lispector, colhendo-as, pouco a pouco. "Clarificando-me". Clareando. Não é nostalgia. Eu quero o presente com o gosto bom do que já experimentei. E quando penso em todas essas coisas, consigo sorrir e encantar. Não preciso! Porque precisar é tão resumido, tão breve. Eu dilato, estendo minhas mãos para a amplitude. E para o que me eterniza. Eu contemplo. Vou continuar assim, sendo. Porque assim não está acabado. E há quem diga que isso é inútil. E a utilidade real das coisas está no visível? Quem vai me dizer que tudo tem que ser concreto? Concreto me lembra tijolo, que me lembra parede... Eu me separo. E o que está além já não é visível. Não encontro porque tudo que vejo é apenas CONCRETO! E essa argamassa não é sólida para mim. Minha sensibilidade está além, diante do horizonte que posso esperar, esperar... Minha esperança!!! Liberto-me em um grito. 

No início, tive dúvidas se deveria tirar meus tênis surrados. Eles apertavam meus pés, e eu não conseguia nem caminhar. Lentamente, desamarrei o laço apertado. Decidi andar descalça. Aceito o risco de expor meus pés a arranhões, só assim estarei oferecendo ao caminho o que vem de mim. Só assim posso sentir o chão que descaminho.

.Bruna Fávaro 

3 comentários:

  1. "Não é nostalgia. Eu quero o presente com gosto bom do que já experimentei."

    Isso foi genial!

    Me uno a você nesse desejo!

    Me uno a você para irmos juntas comprar um tênis novo, e rápido porque a muito o que caminhar...
    Pressa só pra comprar o tênis, calma para gastá-lo.

    Amo vc, amo o que vc escreve!

    Pra resumir o que pensei desse post e concluir meu comentário:
    Foi Bruna se Clariciando, e Clarice se Brunificando!

    *-*

    ResponderExcluir
  2. de fato eu preciso de um tennis novo =/ rss
    amo muito tudo isso *-*
    você é demais garota, vou ser, vou ser que nem você, um dia ! eu creio s2

    ResponderExcluir
  3. Lindo amigaaa!!!

    Também quero um tênis novo :)

    ResponderExcluir

On line

Pesquisar este blog

Postagens populares

Total de visualizações de página